Superintendente regional da Polícia Federal em Rondônia

Superintendente regional da Polícia Federal em Rondônia

Os nossos leitores sempre possuem a curiosidade de saber um pouco sobre o início da carreira dos(as) Delegados(as) Federais entrevistados(as). Poderia nos contar um pouco sobre sua trajetória profissional?


Começamos nossa carreira no estado do Pará, mais especificamente na delegacia de policia federal em Marabá. À época, em janeiro de 2004, as ações eram especialmente voltadas ao combate ao crime ambiental, tráfico de drogas e redução da condição análoga a de escravo. Tivemos um grande desafio enfrentado pela equipe da PF e auditores do ministério do trabalho, pois o combate ao crime enfrentava poderes econômicos expressivos na região norte, porém, considerando que estávamos lastreados na lei e normativos, não sofremos represálias mais contundentes, embora existissem ameaças externas indiretas ao nosso trabalho;


Como Delegada Superintendente da Polícia Federal em Rondônia, podemos imaginar que tenha participada de consideráveis operações. Quais foram as operações que mais marcaram sua carreira?


Certamente as operações mais relevantes na nossa carreira foram executadas quando estávamos chefiando a delegacia de repressão ao crime contra o patrimônio no Piauí. De 2017 a 2018 o nordeste sofria uma onda de violência à agências do Correios e bancárias, ­especialmente roubo com uso de explosivos. O “novo cangaço” era uma ameaça constante não somente ao patrimônio, mas à paz social. Os criminosos, em bando de 10 a 15 integrantes, fortemente armados, adentravam às sedes das cidades, faziam reféns, metralhavam batalhões da Polícia Militar, delegacias e explodiam bancos,.. a população vivia momentos de terror. Isso certamente foi um dos grandes desafios. Vimos que a PF não podia agir de forma isolada nessas circunstâncias, era preciso unir esforços das instituições de segurança pública e bancárias, para conter aquela ameaça constante. Foi nesse mesmo período, em 2019, que ,vemos operação policial para apurar sequestros de gerentes de banco, que, pela própria natureza, nos exigia total sigilo de planejamento e execução. O êxito da ação foi não só fazer a prisão dos sequestradores, mas abortar as próximas ações criminosas. Atualmente, como superintendente em Rondônia, não participo diretamente das operações policiais, mas damos todo apoio logístico e humano para que elas ocorram, de modo que no ano de 2023, ficamos em primeiro lugar do pais em operações policiais da PF, dentre as superintendências de porte médio.


Quais estão sendo/serão seus maiores desafios na Superintendência dos estados? Quais resultados espera atingir?


Os grandes desafios que a Polícia Federal enfrenta na região Amazônica é conter a diversidade de ,apologias criminais e atender com qualidade o cidadão. Apesar de Rondônia ter ainda o perfil de corredor para tráfico internacional de drogas, por exemplo, temos o combate incessante ao crime, cuja medidas judiciais repercutem em diversos estados e fora do País. Outras investigações bem expressivas são as ambientais (combate ao desmatamento e garimpo ilegal), combate exploração sexual de crianças e adolescentes, , enfrentamento ao crime transnacional, fortalecimento da segurança pública na região de fronteira, combate ao narcotráfico e crime organizado, ao tráfico de pessoas, proteção de povos originários e assim por diante. Ademais já estamos planejando ações mais firmes de controle fronteiriço, restabelecendo novas normas de fiscalização fluvial por meio do GEPON e de ações institucionais integradas.


Como se sente sendo a primeira mulher a ocupar o cargo de chefia da Polícia Federal no estado? Considera como a realização de um sonho para a carreira?


Ser a primeira mulher a assumir a função de Superintendente da PF em Rondônia é motivo de orgulho e de preocupação ( risos..) Explico, a mulher tem o perfil de ser muito exigente consigo. Eu, pessoalmente, penso sempre em fazer mais e melhor, não como competição entre gêneros, mas para demonstrar o quão também somos competentes e aptas a ocupar funções historicamente exercidas pelos homens. Se pensarmos em perfis policiais, onde é necessária a integridade, competência, responsabilidade, a única diferença real entre homens e mulheres é a força Fisica. Assim, em se tratando de um órgão que preza pelo planejamento de ações e uso de informações de inteligência para robustecer as investigações e demais trabalhos de polícia administrativa, a força é mais um atributo de exceção, porém não desprezível, em se tratando de órgão policial.


Em apuração realizada com base em todas as chefias da Polícia Federal nos estados, foi possível constatar que as mulheres são metade desse número. Você considera esse número um marco histórico para a Polícia Federal?


Hoje das 27 superintendências, 9 delas são ocupadas por mulheres, isso é um grande avanço à instituição. A PF amplia consideravelmente seu campo de visão, une pensamentos, ideologias, necessidades que até então partam majoritariamente do universo masculino. A PF cresce dividindo poderes e responsabilidades entre homens e mulheres e trazendo resultados cada vez melhores;


O que está previsto para o estado de Rondônia no plano estratégico da Polícia Federal para os anos que ficará no cargo?


Em relação às atividades desenvolvidas na Superintendência Regional em Rondônia focada no Plano Estratégico da Polícia Federal e os seus desdobramentos táticos e operacionais endereçados a nossa Gestão, seguimos a tomada de decisão de modo aparelhado, coerente e harmônico com os eixos estratégicos definidos pela Direção Geral da Polícia Federal. O enfrentamento à criminalidade, a prestação de serviços com excelência e transparência, a transformação da PF numa instituição balizada pela estratégia e governança e a consolidação estrutural dos recursos para formar a polícia do futuro, moderna e inovadora servem como bússola para as atividades regionalizadas. Importante salientar que todas as ações estratégicas convencionadas pelas Diretorias (DPA, DICOR, DAMAZ, DCIBER, DCI, DIP, DITEC, DGP, DLOG, DTI, COGER, DIREN) encontram-se em processo de construção aqui em Rondônia, alinhavando tanto as necessidades individualizadas de cada pasta como as premissas de atuação da Regional no Estado. Os planos sairão da mundo abstrato e serão colocados em franco movimento, indo de encontro aos objetivos natos da PF. Sob amparo de normas atualizadas do DG e MJSP. Hoje compartilhamos funções estratégicas nestes eixos com a Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Técnico Cientifica, Secretaria de Justiça, Secretaria Nacional de Políticas Penais e, logo mais, com a nossa congênere Polícia Rodoviária Federal. E analisando cenários locais, para o diagnóstico e proposta de melhorias de atuação da PF em Rondônia. De maneira geral temos a expectativa de maior atuação ao longo de 2024 e nos anos seguintes devido à intensificação de conflitos fundiários, aumento do risco para líderes de organizações de direitos humanos e proteção ambiental, aumento de atividades ilegais em áreas protegidas pela União, garimpo ilegal, aumento do tráfico de entorpecentes pelas via fluvial e malha rodoviária, expansão das facções nacionais que buscam a hegemonia na região de fronteira; novas modalidades criminosas, a exemplo da pirataria fluvial; e maior exploração das rotas de tráfico de pessoas.


Rondônia é uma importantíssima região para o Norte do país, principalmente por fazer divisa com o estado do Amazonas, possuindo afluentes significativas para a região. Como é feita a fiscalização dessa região para o combate do tráfico ilegal de drogas, bem como a exploração ilegal de madeira?


Temos um espaço de amplo debate com as demais forças policiais estaduais, federais, Marinha, Exército e Aeronáutica e demais instituições civis cujo propósito de combate ao crime se alinham ao nosso. O controle de fronteira mais efetivo é algo que nos preocupa e nos leva a incrementar a fiscalização fluvial, prova disso é o reestabelecimento das atividades do GEPON em Guajará-Mirim. O crime organizado já é alvo de ações da FICCO, a qual engloba a ação conjunta da Polícia Civil, Polícia Militar, Polícia Técnico Cientifica, Secretaria de Justiça, Secretaria Nacional de Políticas Penais e, logo mais, com a Polícia Rodoviária Federal. Sob orientação e coordenação da direção geral instalamos em Porto Velho/RO e hoje já demonstra ações exitosas de combate ao crime em regiões que até não estavam na mira da PF. Em breve, teremos outras ações conjuntas, como a implementação do Programa AMAS do MJSP, que trará uma nova roupagem de combate ao crime na região amazônica.


Ainda com relação a pergunta anterior, como é realizada a coordenação com as demais forças policiais e administrativas nessas regiões?


A PF de hoje é o resultado de um pacto de gerações de profissionais que se dedicaram em prol da instituição. Que as atuais gerações sejam cada vez mais comprometidas em desenvolver um trabalho eficiente e com responsabilidade, para que a PF continue evoluindo como uma instituição inovadora e de credibilidade, motivo de orgulho para todos nós!



Associação dos Delegados da Polícia Federal

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